Parte 1. Tratado 6. Cap. 23 Cap. 24 ☞
T R A T A D O D A E S N O G A.
C A P X X I I I.
Avendo até aqui explicado os Dinim das oraçoens cotidianas, me paraceo conveniente ſeguir com os da Esnoga, por ser o lugar donde ellas cada dia se ofrecem, e concluir com isto a primeyra parte desta nossa obra. Digo pois, que he obrigação em avendo dez pessoas de 13 annos para riba, fabricar ou alugar caza para Esnoga, e comprar os libros da Ley: para que não careção de duas couſas tão essencias, como são, oração, e meditação da Ley divina.
2. Edeficando Esnoga, ha de ser no mais alto lugar de toda a cidade, e ha de superar em altura a todas as de mais cazas, excepto as torres e palacios. E assi se alguma pessoa edeficasse caza que superasse a Esnoga, o obrigarião a que a abaixasse. E neste tempo, se cumpre neste particular, fomentes com o que se pode. A porta, se faz ſempre em parte que fique o Echal de fronte. 3. Se algum edeficar caza da banda das janelas da Esnoga, deve apartar o tal edefiçio tanto espacio, que lhe não tire a viſta. 4. Podesse de huma Esnoga fazer hum Bet a-Medras, donde se melda; mas não de hum Bet-a Medras, Eſnoga: por ser a santidade do bet-a Medras, mayor. 5. Se a caso se vender a Eſnoga, com aquelle dinheyro se pode comprar hum Echal, donde se mete o scepher Torá, ou huma Teba donde se poem o scepher. E se venderao estas cousas, com o tal dinheyro se poderão comprar libros, a saber dos 5. libros da Ley, ou dos Prophetas, e Escritos. E se venderao estes, poderão com o tal dinheyro comprar hum scepher Torá: porque sempre se ha de hir subindo de santidade menor a mayor. Advertindo, que avendo comprado alguma santidade mayor, e restou algum dinheyro, he tambem prohibido empregalo em cousa inferior. Pello consiguinte se por Nedabá ou finta, se cobrou algum dinheiro, para delle se edificar huma Eſnoga, ou Bet-a-Medras, ou comprar Tebá, ou ornamentos do scepher, ou o meſmo scepher, se a caso mudarao depois de parecer, e quizerão empregar dito dinheyro noutra cousa, o não poderão fazer, ſe não subindo sempre da que tinhão em pensamento fazer. Mas se comprarao a que tinhão no intento, então poderão aplicar o dinheiro que ficar, para o que quizerem. 6. Sendo que se pode vender huma cousa de menor santidade para comprar huma mayor, daqui inferem nossos sabios, que se pode vender huma Esnoga, e todas as de mais cousas sacras, ynda que seja hum scepher, para resgatar com o tal dinheyro cativos, cazar orfans, e sostentar Talmidim por que não avendo estudantes, de que sirve a posse de scepharim; ja Hachamim ensinarao, ser mayor o grado do que estuda no Scepher, e sabe explicalo, que o mesmo Scepher. Pello que se se colheu algum dinheyro para edeficar huma Esnoga, ou tinhão ja comprado as pedras e madeiras para ella, poderão gastar o dinheyro, e vender as taes cousas se se offrecesse alguma das sobreditas necessidades. Mas se a Esnoga estiver ja edeficada, farão as possiveis deligençias por aver dinheyro doutra parte, e em falta, se se perdesse a ocasião de acudir a ellas, não so ſe vendera a Esnoga, mas aynda o mesmo Scepher Tora, ut supra. 7. Aquelle que por algum, sucesso contratou com o Kaal, que não podessem edeficar Esnoga, senão elle, e os de sua geração, ou a este modo, contratou qualquer cousa de Misua, não pode o tal vender aquelle Zechut, e direyto a nenhuma outra pessoa. 8. Se a caso edeficarao huma caza, sem alguma declaração, e depois a aplicarao para Esnoga, tem o meſmo direyto e santidade da Esnoga: porem não fica reputada por tal, até que se reze nella pello menos huma vez. E o mesmo se entende da casa que edeficarao em nome de Esnoga. 9. Não se pode derrocar huma Esnoga que está aynda forte, para efeyto de edeficar huma nova: porque não suceda algum adverso sucesso, que impida dita fabrica: Mas se os fundamentos, ou paredes estiverem arroinadas, então se podera fazer, uzando de suma deligençia na dita fabrica. 10. Aquelle que em sua caza teve a Esnoga muytos dias, tem este previlegio, que não pode o Kaál mudandose fazer Esnoga em caza de outro particular. E sendo caso que tendo a Esnoga em sua caza teve algum desgosto com algum dos jehidim particulares della, não podera prohibir a o tal a Esnoga, em quanto o não fizer ao geral. 11. Os ornamentos de prata que seus donos trazem pellas festas a Esnoga, não os podem vender para cousa profana, e por morte delles, podera o Kaál pegar delles para que fiquem como cousa de santidade propia da Esnoga. Bem entendido se não ouver contrato em contrario. 12. Sendo que se ache depois da morte de algum homem, algum escrito seu em o qual deixa a Esnoga alguma cousa, ay quem diz, que o Kaal sem mais testigos deve receber ditas cousas, e que ficão sacras. 13. Se ouver na Esnoga algum Scepher que esté em posse ser de algum particular della, não lho poderão tirar ao heredeyro. 14. Não se pode comprar alguns vestidos que ajao servido em cosas profanas, para dellas fazer capas, ou faxas de Scepher. 15. Se algum particular tinha comprado por hum certo preço, fazer huma Misua na Esnoga, e depois empobreceu, com que o Kaal a vendeo a outro, se tornando a enriqueçer, de novo tornar a pedir sua Misua, constando que no tempo que a deixou, não podia pagar o dinheyro que até então dava por ella cada anno, sera o Kaal obrigado a restituyrlha; mas sendo que conste que podia pagar, e que com seu beneplacito se vendeo a outro, em tal caso perdeo o direyto que nella tinha, e a petição que faz, não sera (por ser injusta) admetida. |
Avendo até aqui explicado os Dinim das oraçoens cotidianas, me paraceo conveniente ſeguir com os da Esnoga, por ser o lugar donde ellas cada dia se ofrecem, e concluir com isto a primeyra parte desta nossa obra. Digo pois, que he obrigação em avendo dez pessoas de 13 annos para riba, fabricar ou alugar caza para Esnoga, e comprar os libros da Ley: para que não careção de duas couſas tão essencias, como são, oração, e meditação da Ley divina.
2. Edeficando Esnoga, ha de ser no mais alto lugar de toda a cidade, e ha de superar em altura a todas as de mais cazas, excepto as torres e palacios. E assi se alguma pessoa edeficasse caza que superasse a Esnoga, o obrigarião a que a abaixasse. E neste tempo, se cumpre neste particular, fomentes com o que se pode. A porta, se faz ſempre em parte que fique o Echal de fronte. 3. Se algum edeficar caza da banda das janelas da Esnoga, deve apartar o tal edefiçio tanto espacio, que lhe não tire a viſta. 4. Podesse de huma Esnoga fazer hum Bet a-Medras, donde se melda; mas não de hum Bet-a Medras, Eſnoga: por ser a santidade do bet-a Medras, mayor. 5. Se a caso se vender a Eſnoga, com aquelle dinheyro se pode comprar hum Echal, donde se mete o scepher Torá, ou huma Teba donde se poem o scepher. E se venderao estas cousas, com o tal dinheyro se poderão comprar libros, a saber dos 5. libros da Ley, ou dos Prophetas, e Escritos. E se venderao estes, poderão com o tal dinheyro comprar hum scepher Torá: porque sempre se ha de hir subindo de santidade menor a mayor. Advertindo, que avendo comprado alguma santidade mayor, e restou algum dinheyro, he tambem prohibido empregalo em cousa inferior. Pello consiguinte se por Nedabá ou finta, se cobrou algum dinheiro, para delle se edificar huma Eſnoga, ou Bet-a-Medras, ou comprar Tebá, ou ornamentos do scepher, ou o meſmo scepher, se a caso mudarao depois de parecer, e quizerão empregar dito dinheyro noutra cousa, o não poderão fazer, ſe não subindo sempre da que tinhão em pensamento fazer. Mas se comprarao a que tinhão no intento, então poderão aplicar o dinheiro que ficar, para o que quizerem. 6. Sendo que se pode vender huma cousa de menor santidade para comprar huma mayor, daqui inferem nossos sabios, que se pode vender huma Esnoga, e todas as de mais cousas sacras, ynda que seja hum scepher, para resgatar com o tal dinheyro cativos, cazar orfans, e sostentar Talmidim por que não avendo estudantes, de que sirve a posse de scepharim; ja Hachamim ensinarao, ser mayor o grado do que estuda no Scepher, e sabe explicalo, que o mesmo Scepher. Pello que se se colheu algum dinheyro para edeficar huma Esnoga, ou tinhão ja comprado as pedras e madeiras para ella, poderão gastar o dinheyro, e vender as taes cousas se se offrecesse alguma das sobreditas necessidades. Mas se a Esnoga estiver ja edeficada, farão as possiveis deligençias por aver dinheyro doutra parte, e em falta, se se perdesse a ocasião de acudir a ellas, não so ſe vendera a Esnoga, mas aynda o mesmo Scepher Tora, ut supra. 7. Aquelle que por algum, sucesso contratou com o Kaal, que não podessem edeficar Esnoga, senão elle, e os de sua geração, ou a este modo, contratou qualquer cousa de Misua, não pode o tal vender aquelle Zechut, e direyto a nenhuma outra pessoa. 8. Se a caso edeficarao huma caza, sem alguma declaração, e depois a aplicarao para Esnoga, tem o meſmo direyto e santidade da Esnoga: porem não fica reputada por tal, até que se reze nella pello menos huma vez. E o mesmo se entende da casa que edeficarao em nome de Esnoga. 9. Não se pode derrocar huma Esnoga que está aynda forte, para efeyto de edeficar huma nova: porque não suceda algum adverso sucesso, que impida dita fabrica: Mas se os fundamentos, ou paredes estiverem arroinadas, então se podera fazer, uzando de suma deligençia na dita fabrica. 10. Aquelle que em sua caza teve a Esnoga muytos dias, tem este previlegio, que não pode o Kaál mudandose fazer Esnoga em caza de outro particular. E sendo caso que tendo a Esnoga em sua caza teve algum desgosto com algum dos jehidim particulares della, não podera prohibir a o tal a Esnoga, em quanto o não fizer ao geral. 11. Os ornamentos de prata que seus donos trazem pellas festas a Esnoga, não os podem vender para cousa profana, e por morte delles, podera o Kaál pegar delles para que fiquem como cousa de santidade propia da Esnoga. Bem entendido se não ouver contrato em contrario. 12. Sendo que se ache depois da morte de algum homem, algum escrito seu em o qual deixa a Esnoga alguma cousa, ay quem diz, que o Kaal sem mais testigos deve receber ditas cousas, e que ficão sacras. 13. Se ouver na Esnoga algum Scepher que esté em posse ser de algum particular della, não lho poderão tirar ao heredeyro. 14. Não se pode comprar alguns vestidos que ajao servido em cosas profanas, para dellas fazer capas, ou faxas de Scepher. 15. Se algum particular tinha comprado por hum certo preço, fazer huma Misua na Esnoga, e depois empobreceu, com que o Kaal a vendeo a outro, se tornando a enriqueçer, de novo tornar a pedir sua Misua, constando que no tempo que a deixou, não podia pagar o dinheyro que até então dava por ella cada anno, sera o Kaal obrigado a restituyrlha; mas sendo que conste que podia pagar, e que com seu beneplacito se vendeo a outro, em tal caso perdeo o direyto que nella tinha, e a petição que faz, não sera (por ser injusta) admetida. |